quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"Matou a política e foi ao cinema."

Texto muito bom do Guilherme Fiuza, jornalista e autor do livro 'Meu Nome não é Johnny'.


"A eleição mais disputada do Brasil foi decidida pela ignorância. A ignorância dos cultos e dos bem-pensantes.O vencedor, candidato de Lula e do governador Sérgio Cabral Filho, era também o candidato das milícias, como mostraram as pesquisas de opinião. Além do braço armado, tinha o braço da pirataria ideológica. Panfletos difamatórios foram apreendidos aos milhares nos comitês de Eduardo Paes.A parcela mais esclarecida da população, aquela que grita por uma cidade mais civilizada e ética, aderiu a Fernando Gabeira. Uma 'onda verde' das pessoas de bem adotou o candidato da transparência, que divulgou nome por nome dos seus doadores de campanha. E as quantias também. Tudo isso antes do primeiro turno. Uma revolução.Num eleitorado de quase 5 milhões, Gabeira perdeu por pouco mais de 50 mil votos. Não foi derrotado pela campanha suja do adversário. Foi derrotado pelas 'pessoas de bem'.A abstenção no Rio foi recorde. No feriadão criado pelo padrinho do vencedor, mais de 20% não votaram. E esse recorde foi puxado pela Zona Sul da cidade - onde está a maior concentração de cultos e bem-pensantes. Dessa turma, nada menos que um em cada quatro eleitores trocou a urna por um programa melhor.Gabeira foi derrotado pelo eleitor de Gabeira.O candidato do Partido Verde, que fez história nessa eleição com sua cruzada contra a baixaria, disse que derrotaria as máquinas estadual, federal e universal - a do bispo Crivella, amigo de Lula, que assim como as milícias aderiu a Eduardo Paes.Gabeira derrotou-as. Só não conseguiu vencer a máquina da ignorância culta.É a mais letal das ignorâncias. Trata-se daquela em que o sujeito tem educação e informação suficientes para discernir. Mas não assume suas responsabilidades.Do povão manobrável, espera-se que seja manobrado. Das milícias e máquinas, espera-se que manobrem o povão. Da elite esclarecida, espera-se que dê o exemplo.A elite esclarecida matou a política e foi ao cinema. Ou à praia. É direito dela. Só não tem mais direito de choramingar a falta de ética dos outros."

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